quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Foda-se


O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se" que ela diz. Existe algo mais libertário do que o conceito de "foda-se"? O foda-se aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor.

Reorganiza as coisas. Liberta-me!
"Não queres sair comigo?! - então, foda-se!"
"Vais mesmo querer decidir essa merda sozinho?! - então, foda-se!"
O direito do "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição.
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua língua. Como o latim vulgar, será esse o português vulgar que vingará plenamente um dia.
"Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a ideia de quantidade que "comó caralho"?
"Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão matemática

A Via Láctea tem estrelas comó caralho!
O Sol está quente comó caralho!
O Universo é antigo comó caralho!
Eu gosto do meu clube comó caralho!
O gajo é parvo comó caralho!

Entendem?
No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".
Nem o "Não, não e não!" é tão pouco ou nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem.
O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto.
Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades de maior interesse da tua vida.
Aquele filho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro emprestado para ir à praia? Não percas tempo nem paciência, solta logo um definitivo:
"Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!".
O impertinente aprende logo a lição e vai para o centro comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema, e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD.
Há outros palavrões igualmente clássicos.
Pensem na sonoridade de um "puta que pariu!", ou o seu correlativo "pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba.
Diante de uma notícia irritante, qualquer "pu-ta-que-o-pa-riu!", dito assim, põe-te outra vez nos eixos.
Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.
E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"?
Já imaginaram 0 bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável se dirige ao canalha que está ali a incomodar e solta:
"Chega! Vai levar no olho do cu!"?
Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima.
Desabotoas a camisa, sais à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovando amor íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do português vulgar: "Fodeu-se!". E a sua derivação, mais devassaladora ainda: "Já se fodeu!".
Conhecem definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?
Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa.
Algo assim como quando estamos sem os documentos do carro, sem carta de condução e ouvimos a sirene da polícia atrás a mandar parar. O que dizemos? "Já me fodi!".
Ou quando nos apercebemos que somos um país em que quase nada funciona, o desemprego que não baixa, os impostos são altos, a saúde, a educação e a justiça são de baixa qualidade, os empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e em pouco tempo, as reformas... e tu pensas "Já me fodi!".

Então:

Liberdade,
Igualdade
Fraternidade
e
foda-se!!!


Mas não desesperem,

Este país... ainda vai ser "um país do caralho!"

Atentem no que vos digo!


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